Meus queridos irmãos,
A Solenidade de Pentecostes é a plenificação do Mistério Pascal: a comunhão com o Ressuscitado só é completa pelo dom do Espírito, que continua em nós a obra do Cristo e sua presença gloriosa. A liturgia deste domingo acentua a manifestação histórica do Espírito no milagre de Pentecostes – como anuncia a primeira leitura dos Atos dos Apóstolos – e nos carismas da Igreja – como nos adverte a Segunda Leitura retirada da Primeira Carta de São Paulo Apóstolo aos Coríntios -, sinais da unidade e da paz que o Cristo veio trazer. Isto, porque a pregação dos apóstolos, anunciando o Ressuscitado, supera a divisão de raças e línguas, e porque a diversidade de dons na Santa Igreja serve para a edificação do povo unido, o Corpo do qual Cristo é a cabeça. Ambos estes temas podem alimentar a reflexão de hoje.
Estimados Irmãos,
Pentecostes significa cinqüenta dias depois da Páscoa. Páscoa que já era para os judeus a festa da libertação. Pentecostes era para os judeus a festa do término da colheita, e por isso tinha um sentido de agradecimento, de alegria pela abundância dos celeiros. Com o decorrer do tempo a Festa de Pentecostes passou a comemorar a promulgação da Lei Mosaica. Por isso, para esta festa acorriam a Jerusalém muitos peregrinos, para agradecer nesse dia a aliança de Deus com a humanidade, com o povo eleito, por isso um dia de abundância de frutos, para enviar da parte do Pai o Espírito Santo, como coroação de sua obra na terra e como garantia da continuidade de sua ação salvadora.
Com a Ressurreição do Cristo, a Páscoa, a Ascensão e Pentecostes são três tempos de um mesmo mistério: o mistério do Cristo Ressuscitado, que acontece historicamente na Páscoa, se confirma na glória da Ascensão e chega à plenitude na descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, constituindo-os em novo povo de Deus, a comunidade cristã.
O Espírito Santo que um dia baixou sobre Nossa Senhora e, com ela, gerou o Filho do Deus Salvador. Mais tarde, desceu sobre o Cristo adulto e o levou a transformar o deserto da humanidade em família de Deus. E, no dia de Pentecostes, desceu sobre os apóstolos para lhes dar a “força de serem as testemunhas de Jesus até os confins da terra” (Cf. At 1,8), construindo a comunidade de fé dos cristãos, refazendo as sementes da esperança da humanidade e congregando os homens no amor fraterno. Pentecostes é a festa do Divino Espírito Santo. Pentecostes é a festa da Igreja divina e humana, santa e pecadora, eterna e temporal, corpo místico do Cristo, formado e vivificado pelo Espírito de Deus.
Estimados Irmãos,
A Primeira Leitura – retirada dos Atos dos Apóstolos – nos dá uma verdadeira dimensão da festa de hoje: que o Espírito Santo estaria acompanhando, rezando, abençoando e santificando as testemunhas da Ressurreição, os Apóstolos, que tinham a missão de conduzir a Igreja pelo mundo. E, assim, no Evangelho de hoje, Jesus sopra sobre os apóstolos o Espírito Santo e com Ele lhes dá o poder de recriar o mundo – quem perdoa pecados, salva; quem salva, refaz, recria a criatura renovada pelo perdão de suas faltas.
Pentecostes poderia ser um novo mundo sendo recriado, porque Jesus, com um sopro divino: “Envias teu sopro e tudo é recriado; tu renovas a face da terra!” Como a palavra “sopro” e a palavra “Espírito” têm o mesmo significado, o verso passou a ser uma oração de invocação ao Espírito Santo: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será recriado, e renovareis a face da terra”. Pentecostes é renovação, é recriação. Sobretudo recriação da criatura humana.
Irmãos,
Celebramos hoje os dons da Páscoa: primeiro o próprio Ressuscitado, o Redentor e Salvador. Jesus venceu a morte e anunciou a vida plena. Vida plena que gera o segundo dom da Páscoa: a Paz, ou seja, o retorno do equilíbrio no coração da criatura humana, com a dimensão da confiança e da humildade para com Deus; com a dimensão para o próprio eu, o ser íntimo da pessoa, confortado pela certeza de não ter sido enganado e impelido pela esperança; e com a dimensão para os outros, com quem pode criar comunidade e repartir a alegria da caminhada para o céu.
Paz que é vivida a partir da dimensão do perdão, da acolhida do diferente, por isso o próprio Cristo nos anuncia a Paz: A Paz esteja convosco! E a nossa resposta deve ser: O AMOR DE CRISTO NOS UNIU!
Paz que vem do perdão, nascido da fé, que é enriquecido pela esperança e pela caridade!
O terceiro dom da Páscoa é o Envio. Jesus nos santifica pelo Batismo e nos envia para a missão. Vencido o pecado e vencida a morte, Jesus reparte com os apóstolos a missão de salvar, enviando seus discípulos para anunciar o Evangelho a todos os povos, convertendo-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E os apóstolos e discípulos, tendo recebido o poder de ligar e de desligar, até o Juízo final, tem a faculdade de perdoar, em nome do Cristo, os pecados e ligar a amizade com o Salvador.
O quarto dom da Páscoa é o ESPÍRITO SANTO, ou seja, o Paráclito, ou ainda, o ADVOGADO seu e dos Apóstolos. Dele, porque haveria de fazer os apóstolos compreenderem o mistério de sua pessoa e de sua missão. Dos apóstolos, porque lhes daria a coragem e a lucidez de serem as testemunhas da Ressurreição e do Reino de Deus na terra. O Espírito Santo que é o advogado da Igreja, já que a Igreja tem Jesus como cabeça, e como corpo, os discípulos do Senhor. A Igreja celebra a festa de Pentecostes como a data de sua instituição solene.
Estimados Irmãos,
Em cada solenidade de Pentecostes, a Santa Igreja reaviva o Espírito que nos foi dado como dom de Deus. Assim, reanimados e fortalecidos, seremos fecundos na gestação do Reino de Deus, levando à plenitude a vida nova recebida pela fé e pelo Batismo. O Espírito Santo quer ser invocado. Por isso, a Liturgia de Pentecostes exclama: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da Terra!” Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal.
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