Às vezes pensamos que a bondade, a
misericórdia e o amor de Deus são razões que justificam qualquer coisa que
façamos. Se Deus é assim, dizemos, então, tanto faz nos comportarmos bem ou
mal, tanto faz trabalharmos na vinha ou abandoná-la. Se pensamos deste modo, é
porque ainda não saímos de uma mentalidade ajustada à lei. Os que vivem sob a
lei sentem-se impelidos a cumpri-la. A polícia e os juízes encarregam-se de
cuidar para que todos a cumpram e de castigar aqueles que não o fizerem. Mas,
quando o vigilante olha para o outro lado, então os que vivem sob a lei se
sentem livres. Pensam que podem fazer o que quiserem. E, normalmente,
dedicam-se a praticar o que é proibido. Não pensam muito naquilo que estão fazendo.
O mais importante é o prazer de quebrar a norma e enganar a quem os vigia. Não
se importam em saber se aquilo que fazem nesse momento é bom ou mau, ainda que,
muitas vezes, isso seja prejudicial para eles mesmos.
Jesus nos convida a dar um passo adiante. Nós,
cristãos, já não estamos sob a lei, mas sob o amor. Deus não nos está vigiando
para verificar se cumprimos a lei, mas é como um pai que acolhe e nos leva a
tomar as rédeas de nossa vida. O que devemos fazer será realizado por nossa
vontade e não porque alguém nos controla de fora. No âmbito do amor de Deus é
que nossa liberdade e nossa responsabilidade ganham sentido. Não há ninguém que
meça e conte nossas falhas para nos castigar, mas há alguém que, com todo o
carinho que podemos imaginar (Deus nosso Pai), nos anima para que cresçamos e
amadureçamos como pessoas.
Nesse contexto, entendemos as palavras finais do
Evangelho de Mateus, capítulo 21, versículos 28 a 32. Elas dizem que os
publicanos e as prostitutas nos precederão no Reino de Deus porque se
converteram. Eles compreenderam o amor de Deus, acolheram-no e responderam com
generosidade ao seu chamado. Eles começaram a viver de acordo com a nova
justiça do Reino. Ali onde o mais importante é, como diz São Paulo, ter “os
sentimentos próprios de uma vida em Cristo Jesus”.
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)
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