Uma de nossas grandes
dificuldades é a sinceridade em nos reconhecermos pecadores. Mesmo que a cada
missa façamos o ato penitencial quando proclamamos, confessamos nossos pecados
publicamente parece que nem sempre esse ato que fazemos com nossa voz
corresponde ao nosso coração. Basta vez a dificuldade hoje, em participar do
Sacramento da Penitência encontrando sempre justificativas para fugir desse
momento de misericórdia. Sabemos também como nos justificamos em nossos pecados,
procurando muitas vezes colocar um culpado em nosso lugar. Outras vezes
queremos nos desculpar com justificativas para não assumir nossa
responsabilidade de erro, de pecado.
Reconhecemos pouco o pecado e,
em seguida, não sabemos pedir e dar perdão. A falta de experiência da
misericórdia em nossas vidas nos faz também ser pouco misericordiosos para com
os outros. Nós percebemos isso nos desejos de vingança (não de justiça),
proclamados em alto e bom som por muitos comunicadores revoltados com os
problemas da sociedade.
Diante do homem sujeito ao mal
e ao pecado, Jesus não nos condena, mas convida todos a segui-Lo porque
acredita que podemos mudar. Ele dirige uma proposta de amor. É por isso que os
publicanos e as prostitutas entrarão primeiro no reino dos céus, porque acreditam
naquele homem que os chama, levam a sério o seu amor, procuram o seu perdão,
entendem a graça, que é a sua confiança. Entram primeiro, porque eles não têm
vergonha de procurar ajuda, de falar; porque não fingem ser o que eles não são,
não tentando defender-se pelos méritos ou justificações e, por isso, mudam suas
vidas. O Evangelho é esta história bela, belíssima notícia: nós podemos mudar,
o pecador encontra o perdão, podemos ser diferentes, novos, nascer de novo.
Neste domingo, ouvimos a parábola
(cf. Mt 21, 28-32) do dizer e do fazer. Jesus fala de dois filhos que mudam de
ideia: um diz "sim", mas não faz ", o outro diz "não
", mas pensa melhor e faz. Não basta apenas a verbalização de uma
religiosidade, é necessária a prática, a vida coerente! Infelizmente existem pessoas
que vivem em absoluta contradição com aquilo que dizem, enquanto outros, ao
contrário, vivem uma boa humanidade, uma honestidade e uma vida absolutamente,
fiéis à sua consciência, pregando suas convicções com a vida. Jesus pede ao seu
discípulo para imitá-Lo nas suas próprias palavras e atos, na profunda
consciência de que encontrar o Evangelho nos impulsiona a mudar de vida.
Um homem tinha dois filhos, e
a ambos pede para ir trabalhar na vinha. O primeiro se declara pronto, mas
depois não vai. O segundo, no entanto, se recusa a princípio, mas depois se
arrepende e vai trabalhar. Nesse ponto, Jesus perguntou aos fariseus:
"Qual dos dois fez a vontade do pai?". Eles só podem responder:
"O último". Era a única resposta possível. São os próprios fariseus a
expor com clareza o contraste entre o "dizer" e o "fazer". Várias
vezes no Evangelho se repete a exortação de que as palavras não são
suficientes: o que importa é "fazer a vontade de Deus." O exemplo do
segundo filho é eficaz: ele cumpre a vontade do pai, não com palavras, que são
até mesmo contrárias a ela, mas com ações.
Cumpre a vontade do pai aquele
que retorna sobre suas decisões, aqueles que param de dizer não e começam a
fazer. "Seja feita a vossa vontade", repetimos ao chamar Deus de Pai.
Seja feita a começar por mim. Não basta proclamá-la somente com a boca. Mostre
a sua fé através das obras! Não sejamos aqueles que somente dizem: Senhor,
Senhor, mas não fazem o que o Pai deseja! Bem recordava o Papa Paulo VI: “os
homens de hoje escutam muito mais as testemunhas que os mestres, e se escutam
os mestres é porque são testremunhas”!
O discípulo não é um perfeito,
mas um que muda e que se converte a cada dia. Somos chamados a reconhecer
nossos pecados e dar passos concretos de conversão. Somos chamados a colocar em
prática o Evangelho.
Nestes dias em que os sinais
da Jornada Mundial da Juventude, a Cruz e o ícone de Nossa Senhora começaram a
percorrer o nosso país – levados pelos jovens que assim anunciam o Cristo
Senhor, Vida do mundo para todos, junto com a fidelidade de Maria, assim também
cada um de nós, servos por amor, saiamos a trabalhar na vinha do mundo como
discípulos missionários que testemunham com a vida o Senhor Jesus Cristo,
Ressuscitrado, Caminho, Verdade e Vida. Desta forma, seremos felizes e daremos
felicidade para muitos.
†
Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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