Meus queridos irmãos,
O Brasil e o seu povo santo estão unidos, de norte a sul, de leste a
oeste, para a grande festa de nossa augusta padroeira: a Virgem da Conceição,
Aparecida das águas do Rio Paraíba, no vale do mesmo nome, no ano de 1717.
A devoção à Virgem Maria, depois da Fé Católica, é o maior legado
que nossos colonizadores nos deixaram. “Em Portugal se conservará o dogma da
fé”, predisse Nossa Senhora em Fátima, exatos 200 anos após a aparição da
Virgem Aparecida. No Brasil, por conseqüência, essa fé há-de ser sempre
inabalável, pela forma sólida como sempre foi fundada no coração de nossos
fiéis.
Poderia a Providência Divina ter, como sinal, conduzido às redes dos
dedicados e sofridos pescadores do Paraíba uma cruz – símbolo da nossa fé; ou
um ícone do Divino Redentor ou até de algum santo. Mas, não. É a imagem daquela
que nos foi dada por Mãe, a Eva do Novo Tempo, numa expressão plácida, orante,
imersa no diálogo com o Deus que a criou, como que meditando todas as
maravilhas que lhe foi dado conhecer, que vem guiar a espiritualidade daquele povo
sofrido, massacrado pelo poder exacerbado, pela injustiça, pela opressão.
Essa imagem da Virgem que se apresenta como ícone de veneração, de
contemplação e de modelo tornou-se, com o passar do tempo, uma referência para
os brasileiros – para o povo e para a nobreza. A similitude com o povo pobre, a
cor negra, a simplicidade de sua escultura tem muito em comum com o povo
brasileiro, na sua simplicidade, a ponto de ser consagrada como Rainha e
Padroeira do Brasil e, por Decreto Pontifício, coroada como tal. Daí o 12 de
outubro ser um dia de grande felicidade e de contentamento espiritual.
No majestoso Santuário Nacional de Nossa Senhora, na paulista
Aparecida, ou nas catedrais, igrejas matrizes e filiais, capelanias e oratórios
públicos de todo o imenso território nacional, os fiéis, precedidos de seus
Pastores, louvam a Deus, por intermédio de sua Mãe que nos legou o mais simples
e profundo modo de seguir a Jesus Cristo, o Redentor: “Fazei tudo o que Ele vos Disser!”.
Irmãos e irmãs,
Na solenidade de Nossa Senhora Aparecida a Sagrada Liturgia no-la
apresenta como a intercessora de seu povo, mais que súditos ou vassalos, seus
filhos amados, nós todos, brasileiros. Neste ano o Eminentíssimo Senhor
Raymundo, Cardeal da Santa Romana Igreja DAMASCENO ASSIS, nos propõe como tema
principal da Novena e da Festa da Padroeira: “SENHORA APARECIDA, REFLEXO DO
CORAÇÃO MATERNO DE DEUS”.
Assim, a Primeira Leitura nos relata sobre a intervenção da rainha
Éster junto ao Rei Assuero em favor do povo judeu, ao qual ela mesma pertencia.
Ao mesmo tempo, menciona-se a graciosa beleza desta “flor do seu povo”. É, pois, a Senhora Aparecida a intercessora junto
ao trono do Altíssimo, de pé, orante, insistente.
Ao meditarmos o relato sagrado, vêm-nos recordações importantes da
vida cristã: como a ternura maternal de Maria, sua dedicação a Jesus, mulher de
fé e seu serviço prestado a toda a humanidade. Em MARIA temos o mais perfeito
exemplo do discípulo de Jesus, que sabe cumprir os mandamentos e fazer realizar
a única vontade do Pai, que se concretiza na salvação do povo de Deus.
A Virgem Maria deve ser apresentada como o Modelo perfeito de
fidelidade do ser humano para com Deus. Maria da fraternidade. Maria da
acolhida. Maria da graça. Maria da partilha. Maria da misericórdia. Maria da
graça santificante. Maria da generosidade. Maria do serviço. Maria, a Mãe da
nova evangelização. Maria, a Mãe que zela pelos seus filhos.
Talvez aí esteja o motivo de sua manifestação por ocasião da visita
do governador –general de São Paulo e Minas, o Conde de Assumar, em 1717, a Guaratinguetá. Na
ocasião, os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso teriam sido
escalados para pescar os peixes que seriam servidos à refeição do ilustre
visitante. Era uma sexta-feira e, conforme rígido costume da época, dia de
abstinência de carne.
E os homens simples do Vale do Paraíba nada pescaram.
Quando já estavam quase desanimados, jogaram a rede e retiram uma
imagem pequena de Nossa Senhora da Conceição, um pouco enegrecida pela água,
sem a cabeça. Outro arremesso, veio a cabeça da imagem. Mais um arremesso, veio
a pesca abundante. Deus abençoava, naquele momento, os três pescadores.
A imagem da Virgem da Conceição, feita de barro cozido, enegrecida
pelas águas e pelo tempo, medindo 36 centímetros, foi
levada para o culto divino.
Em 1745, foi construída uma capela no alto do Morro dos Coqueiros.
Nascia, assim, a devoção à Virgem Aparecida, Mãe do Povo Brasileiro.
Em 1888, foi substituída a primitiva capela por uma igreja maior. Em
1894, a
Igreja e a devoção a Nossa Senhora foi enriquecida com a chegada dos primeiros Missionários
Redentoristas que passaram a gerir o Santuário Nacional.
Desde 1953, a
festa de Nossa Senhora Aparecida tem como dia de celebração o 12 de outubro.
Desde 1930, Nossa Senhora Aparecida abençoa o povo brasileiro como sua
Padroeira Nacional.
Em 4 de Julho de 1980, o saudoso Sumo Pontífice João Paulo II consagrou
o novo Santuário Nacional, uma das mais belas obras da arquitetura religiosa
moderna, significante expressão da grandiosidade da devoção do povo brasileiro
que a venera como mãe e rainha.
Meus queridos amigos,
O Evangelho de hoje (Jo 2,1-11), que relata as Bodas de Caná, tem
como ambiente uma família. Nossa Senhora deve ser lembrada como a padroeira das
famílias. Assim, a nossa família, toda ela mariana, deve buscar em Maria a
proteção para as suas necessidades e a sua intercessão privilegiada junto de
Deus, porque o que se pede a Mãe o Filho atende.
Maria intercede junto a Jesus. Por isso acreditamos que ela haverá
de interceder pelo povo brasileiro em suas múltiplas necessidades,
particularmente no grave momento político e social em que vivemos. O exemplo e
a oração de Maria devem ser presentes e presença para que uma nova aurora surja
em benefício do povo brasileiro.
Maria, nossa Mãe, mãe da misericórdia, cuja ternura toca o nosso
coração, recebe e atende nossos pedidos, dos mais simples aos mais complexos e
difíceis.
Maria deposita toda a sua confiança em Jesus, no seu poder salvador,
na sua misericórdia e na largueza de seu imenso coração misericordioso.
Faltava o vinho e Maria intercede pedindo aos serviçais para que “fizessem tudo o que Ele dissesse” (Jo 2,5).
Assim, com sua intercessão materna, houve abundância do vinho que era água. A
riqueza desta graça que Maria distribui, também ela em abundância, distribui
aos filhos que a ela recorrem. Dela podemos dizer o mesmo que a carta aos
Hebreus aconselhava a respeito do Sumo Sacerdócio de Jesus: “Aproximemo-nos confiantemente do trono da
graça, a fim de alcançar misericórdia” (Hb 4, 16).
Irmãos,
A segunda leitura (Ap 12,1.5.13.15-16) remete-nos à liturgia da
Assunção. Maria que protege a humanidade e a Igreja – exerce a missão de Mãe e
Mestra. Maria gerou e levou o Salvador ao mundo e presenciou a sua vitória. Eis
aí o que une Maria e a Igreja, que tem a missão de levar o Salvador ao Mundo e
presenciar a Vitória de Cristo sobre o mundo, como Rei da Humanidade. Esses
aspectos fazem de Maria e da Igreja uníssonas na obra da salvação.
Salvos das águas pela fé e pelo Batismo, os cristãos podem atingir
algo daquilo que contemplam na Virgem Aparecida, a Imaculada, se seguirem o seu
conselho: “Fazei tudo o que Ele vos
disser!” Esta parte fica como a nossa missão na festa da Virgem Maria.
Que Maria, atendendo ao apelo da 5º Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e do Caribe, celebrado sob o seu Manto em Aparecida, em 2007,
nos ensine a sermos autênticos discípulos e missionários de Jesus Cristo,
pregando a Boa Nova e testemunhando o Cristo salvador, a exemplo de Maria,
modelo para todo cristão. Nossa Senhora Aparecida, Reflexo do Coração Materno
de Deus. Todos nós temos Maria Santíssima no nosso coração. Nosso coração é
mariano, nós veneramos Maria, e seguimos o Seu Exemplo para refletir em nossa
vida o que Deus Pai quer de cada um de nós. Contemplamos o mistério do amor que
encerra no Coração da Virgem Aparecida: coração que era sim para a vida,
coração que era sim para o irmão e para a irmã. Coração de Maria Aparecida que
acolheu Jesus e acolhe todos os aflitos que estão junto à Cruz. Que Maria nos
leve ao Coração da Santíssima Trindade!
Ó Virgem Aparecida, rogai por nós que recorremos a Vós! Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal
Vigário Judicial da
Diocese da Campanha
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