Celebramos neste final
de semana o segundo domingo do Advento, que é o tempo favorável para se
preparar para a celebração anual do Natal, o Mistério da Encarnação! A palavra
de Deus nesta época especial do ano litúrgico assume um papel e uma função
muito importante para nossa vida cristã. É partir dela que começamos a
entender o verdadeiro sentido da vinda de Deus entre nós e a própria
celebração do Natal do Senhor neste tempo marcado por tanto
sofrimento, mas também com muita esperança e confiança.
Na oração do dia ou
coleta, recolocamos hoje o significado da nossa expectativa pessoal e
comunitária da vinda do Redentor: "Ó Deus todo-poderoso e cheio de
misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de
correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria,
participemos da plenitude de sua vida".
Neste
domingo somos convidados a olhar
para a figura de João Batista,
que clama no deserto a necessidade de
preparar o caminho para o Senhor
que vem. Ele vem de uma maneira especial na história da humanidade. Para isto, escolhe um momento
muito específico: Deus entra na história humana para transformá-la de dentro.
Assim como há dois mil anos o apelo à
preparação ecoa, chamando-nos a preparar o caminho do nosso coração, porque é
aí que o Senhor deve nascer. Isso nós veremos
através das transformações de nossas vidas e comportamentos.
Na primeira leitura, (Is
40,1-5.9-11), encontramo-nos imersos naquela esperança que vem exatamente
do esperado Salvador da humanidade. O grande profeta do Antigo Testamento,
Isaías, aponta diretamente para o coração do grande evento que Israel estava
esperando desde sempre. E faz isso, recordando o compromisso pessoal e
comunitário, de modo que a espera não se torne ociosa e passiva, mas pelo
contrário, torne-se um incentivo para renovar-se e renovar. Aquele convite
para preparar o caminho do Senhor, para diminuir o orgulho e a arrogância,
presunção e autossuficiência de quem pensa que pode não ter Deus
em consideração, nos diz exatamente aquilo de que precisava o povo de
Israel, daquilo de que precisa o novo povo de Deus, mas também toda a
humanidade: o nascimento de Cristo e a sua morte e ressurreição.
Neste tempo de espera e
de renovação, precisamos também hoje de vozes proféticas e corajosas chamando o
mundo à conversão. Vozes fortes e corajosas, que podem dizer a verdade até o
fim e não têm medo de nada nem de ninguém, para trazer para fora tudo o que é
verdadeiro, justo e reto.
Uma voz profética na
preparação dos caminhos do Senhor foi João Batista. A breve passagem do
Evangelho de Marcos (Mc 1,1-8) nos faz entender a sua missão e o seu
papel em vista da vinda do Salvador. O precursor tem o seu lugar bem
preciso no plano da salvação.
Nós sabemos o que João Batista fez e qual foi
sua atitude diante do mal, do pecado, dos desvios e da imoralidade. Ele
clamou em alta voz, e denunciou, em termos inequívocos o mal existente em seu
tempo. Ele não somente gritou, mas ele trabalhou e viveu na pele a experiência
de um compromisso e fidelidade à verdade e à moralidade. A existência do
Batista foi uma vida reta, límpida, penitente, pura e imaculada em si; era um
testemunho de uma denúncia do que estava errado e daquilo que era
útil fazer para ajudar a preparar o caminho para o Messias e Redentor.
Todos nós precisamos
ouvir a voz dessa voz preparatória para a vinda do Messias, que
hoje nos convida a nos arrependermos, a mudar de vida para
renovar-nos, fazendo penitência para concentrar em Cristo o sentido último
de nossa vida.
O apóstolo Pedro, na
segunda leitura, no breve trecho de sua segunda carta, lembra-nos o
sentido da vida, do tempo, da história, dos eventos e nos direciona para um
horizonte de eternidade, do qual não podemos prescindir se quisermos
compreender o verdadeiro significado do nascimento de Cristo e do mistério da
Encarnação do Filho de Deus
A consciência clara e a
consciência da eternidade nos levam a agir para este objetivo final. Os novos
Céus e a nova Terra são também um compromisso para construir a cada dia a
civilização do amor, o Reino de Deus.
Enquanto caminhamos
para a parusia, temos o sagrado dever de acolher com alegria o plano de Deus,
cumprindo, com o dom da graça, o que Jesus quer de nós. Isso nós faremos
através de escolhas de vida evangélica em sinal da renovação e de alegria
eterna. Nós somos os verdadeiros trabalhadores que trabalham em todas as
situações para construir o nosso futuro no Senhor, com
o Senhor e para Senhor que veio para nos redimir e nos
salvar da nossa condição de miséria e pecado. Ele vem no esplendor da glória, e
vai chamar-nos a possuir o reino prometido, que agora ousamos esperar numa esperança
vigilante. A voz de João Batista continua a ecoar nos dias de hoje! Vamos
escutá-lo!
† Orani João
Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ
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