quarta-feira, 1 de junho de 2011

“Eis que fui constituído para anunciar as insondáveis riquezas de Cristo” Efésios 3,8

Diletíssimos Irmãos e Irmãs.
              Neste tempo da vitória do Senhor, às portas do derramamento de seu Espírito Santo, no Pentecostes, tal qual em Jerusalém naqueles dias após a Ressureição, nos achamos reunidos, assembléia santa e povo redimido, para oferecer louvor agradável ao Senhor Deus, nosso criador, por meio de seu Filho nosso Senhor Jesus Cristo, na presença em nós do mesmo Espírito, que torna agradável a oblação de nossa própria vida. Um olhar sincero para o coração poderia talvez advertir a cada um de nós que assim como outrora os discípulos, mantemos “as portas fechadas por medo” (Jo 20,19).
            Queridos irmãos, no louvor que ora elevamos a Deus, é salutar que o saibamos, não estamos sós. Acompanha-nos uma legião vitoriosa, que já triunfa no céu junto de Deus e que conosco é Igreja, no serviço de adoração e amor à Trindade. Se a experiência da ausência humana de Jesus nos provoca temor, como aos discípulos, olhamos para o patriarca Moisés, que pela fé conduzia o povo rumo à terra prometida “como se visse o invisível” (Hb 11,27). Sim, ver é mais que enxergar! A realidade supera o que nossa vista nos pode comunicar, mas a fé, ela sim, nos faz ver o que transcende a nós mesmos, e que é “nosso dever e salvação”, como rezamos no prefácio da missa.

            Como nos ensina o angélico Papa Pio XII na Mediator Dei, estamos in conspecto angelorum, isto é, na presença dos anjos que juntamente com os mártires e santos, que alvejaram “suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14), celebram conosco os mistérios da encarnação e redenção. A Igreja pontifica, na letra da Sanctorum Mater, a importância dos santos na vida eclesial. Podemos, na segurança da autoridade do magistério e da tradição, recorrer aos santos, para que orem junto a Deus, pelas nossas intenções.
E hoje, amados irmãos, conscientes de que os santos de Deus estão aqui presentes, de maneira misteriosa, e que pela fé podemos vê-los e que, ademais, nós mesmos, pelo batismo, temos a chancela da santidade, queremos implorar a Deus toda sorte de bênçãos e paz, pela intercessão daqueles que trilharam na esperança os caminhos deste mundo, e “deram testemunho da palavra” (Ap 12,11).
            Esta cidade episcopal da Campanha da Princesa, vetusta e bissecular, assentada majestosa sobre as serras de Minas, em unidade de fé e adesão com o nosso amantíssimo Antístite Diocesano, e com o rebanho que ele congrega à partir desta cátedra sagrada, celebram com piedosa solenidade o seu taumaturgo patrono Santo Antônio.
Antônio de Pádua, de Lisboa ou da Campanha, amados irmãos e irmãs, cujo clarão imenso de santidade e testemunho, fez brilhar resplandecente a luz da verdade e projetou-a para toda a Cristandade, sendo, pelos séculos, um dos santos mais queridos e venerados da catolicidade. Santo Antônio, sinal da fidelidade de Deus com sua Igreja, continua vivo na comunhão dos santos e nos seus exemplos que, perpassando os séculos, nos alcançam neste recanto natal.
            Nascido em Portugal num ensolarado quinze de agosto, dia no qual, séculos depois, seria proclamado o dogma da Assunção da Virgem Maria, é consenso entre seus biógrafos que fora gerado à sombra da imemorial Sé de Santa Maria Lisboa, onde seria levado às águas lustrais, e em cujas cercanias residiam seus pais. Por Maria sempre teve uma sublime devoção.  
Poucos anos depois, talvez impelido pelo que ele próprio afirmou em um de seus sermões, qual seja: "Uma água turva e agitada não espelha a face de quem sobre ela se debruça. Se queres que a face de Cristo, que te protege, se espelhe em ti, sai do tumulto das coisas exteriores, seja tranquila a tua alma”, ingressa na ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, em busca da vida religiosa.
            Foi em Coimbra, capital do saber, que o grande patrono da Catedral Campanhense, doutorou-se sagrada teologia, filosofia, e direito, destacando-se desde cedo na arte oratória. Atribuem seus biógrafos, ao martírio de vários filhos da pobreza de São Francisco, no Marrocos, pelos infiéis, o seu desejo de aderir à regra de São Francisco, deixando os filhos do Santo Bispo de Hipona.
            Sob o hábito de frei Franciscano encontra novo impulso o seu profícuo apostolado na pregação da palavra. Torna-se hábil difusor da doutrina de Cristo, sobretudo no sul da França e nos principados itálicos, onde se forma sua aura de grande pregador.  Viveu, o nosso querido padroeiro, em época de muitas heresias que comprometiam a unidade e a pureza de nossa fé. Neste contexto recebeu o título de “martelo dos hereges”, pela sua capacidade de fazer prevalecer a verdade cristã, sobre as brumas do erro.
            Dissera certa vez: "Ó Senhor, dá-me viver e morrer no pequeno ninho da pobreza e na fé dos teus Apóstolos e da tua Santa Igreja Católica”. E assim Deus permitiu-lhe: vida valorosíssima que só fez por propagar o bem e ser intérprete das leis de Cristo na sua Santa Igreja. O milagroso Santo Antônio, piedosamente, morreu aos 36 anos, em 13 de junho de 1231.
            Sua fama de santidade espalhou-se de tal forma pelo mundo que em um dos mais breves processos de canonização da história, a Igreja já o declarava santo em 1232, portanto um ano depois de sua morte. O Papa Pio XII, de saudosa e santa memória, o proclamou doutor da Igreja no ano de 1946, fazendo questão de registrar nas atas dos santos, à cerca de seu ministério: “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”. Com inspirada justiça foi-lhe dada a alcunha de Doutor Evangélico, como é conhecido e deve ser chamado.
            Esse santo, meus irmãos e irmãs, é o titular desta sé catedral. É aquele que roga insistentemente a Deus por cada Campanhense, filho desta urbe ou desta Diocese, jóia engastada na constelação luzidia da Igreja do Brasil. Este é o santo glorioso, orgulho do Israel de Deus que somos nós. Um dos maiores seguidores de Jesus cujo nome a história e a fé registraram. Ele preside o altar desta barroca Catedral a assistir, no simbolismo de sua imagem, o transcorrer da história, nestas naves incensadas e paredes imemoriais. Ele, por mais que nos comova sua história, quer hoje nos falar ao coração. Quer nos ser atual!  Este é o sentido da vida dos santos: oferecer seus rastros no caminho de Jesus, para que o percorramos.
            Santo Antônio deseja fazer-se ouvir, não porque queira dizer de si ou do que pensa, ou mais ainda de alguma sua ideologia, mas porque deseja, no sentido do que admoestara João Batista: “mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias” (Mt 3,11), ensinar o que ensinou Jesus. Oxalá neste dia não precise Santo Antônio pregar aos peixes, como naquele tarde nas cercanias de Pádua. Sejam suas palavras, que são eco das do evangelho, sementes na terra fértil do coração.
            Possamos neste dia, nos preparando para a festa litúrgica de tão excelso santo, compreender que o Espírito que santifica o mundo, torna viva a letra do Evangelho, e que se esta nos questiona, impulsionando-nos para a diária conversão, é porque a luz do mesmo Espírito nos ilumina, tal qual a Santo Antônio.
            Convertidos dia-a-dia, tomando a cruz de Cristo, poderemos a exemplo de Santo Antônio, ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13), santificando o nosso tempo pelos benfazejos méritos do redentor e cheios do Espírito da verdade, do defensor e santificador, abandonar o medo a que nos condicionam as humanas incertezas e anunciar a todos, como o fez o glorioso santo, isto é, com a própria vida, “as insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3,8).


Padre Wagner Augusto Portugal
Vigário Judicial da Diocese da Campanha, MG.

Sermão no Segundo dia da Trezena de Santo Antônio
Catedral Diocesana de Santo Antônio da Campanha
Campanha, MG, 01 de junho de 2011.

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