sexta-feira, 2 de setembro de 2011

23º Domingo do Tempo Comum

Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença; tratai o vosso segundo a vossa misericórdia”(cf. Sl. 118,137.124).
Refletimos na liturgia de hoje a “Igreja, comunidade de salvação”. O profeta é o homem que enxerga por cima dos telhados, que tem uma visão de conjunto da realidade eclesial, é aquele que faz uma análise das coisas certas e das coisas erradas, anunciando a vontade de Deus, o hoje da salvação. O profeta enxerga o lado interior das coisas, principalmente as coisas surpresas e as maldades dos corações. O profeta é uma sentinela, que deve dar o alerta se enxergar algo suspeito no comportamento dos fiéis e na caminhada da comunidade. É o profeta que faz com que a comunidade volte para o caminho da verdade, da salvação e da fraternidade. A primeira leitura tirada do livro de Ezequiel(33, 7-9) nos adverte que como cristãos, temos todos responsabilidades uns para com os outros. Somos sentinelas da fidelidade para com Deus e para com o próximo.  Os profetas eram sentinelas em Israel; deviam dar alerta, e o fizeram. Mas o povo não prestou atenção. Veio a catástrofe – exílio. Sobra um pequeno resto. Ainda assim precisa de sentinela, de alguém que lhe avise para mudar seu caminho. E aí da sentinela que não cumprir seu dever: ela é responsável pela perda do irmão.


Irmãos e Irmãs,

Jesus hoje nos ensina como deve ser o comportamento cristão diante do pecador, de quem peca, de cada um dos irmãos, que pecamos quotidianamente, na caminhada para a santidade.
Jesus nos adverte que a lei fundamental do cristianismo é a lei do amor, que tudo perdoa, tudo acolhe, tudo ama. A correlação fraterna deve ser ditada pelo amor fraterno e pressupõe a correspondente humildade e compreensão da parte de quem corrige. O orgulhoso não tem autoridade para corrigir. O Evangelho fala da correção fraterna, penitência e oração comunitária(cf. Mt 18,15-20). A Igreja é ao mesmo tempo santa e pecadora. Na santidade de filhos de Deus, somos irmãos, responsáveis uns pelos outros, mesmo e, sobretudo, quando o pecado está destruindo esta santidade. Só em última instância, quando a preocupação do cristão individual ou da comunidade nada resolvem, a comunidade pode excluir o pecador, para o conscientizar de que ele já não está participando da santa comunhão eclesial.
A ovelha desgarrada é o pecador. Jesus se comporta diante do pecador de maneira diferente da dos homens: vai à sua procura com interesse e carinho e sente alegria em encontrar o pecador. Assim não foi com Zaqueu que desceu da árvore para atender ao apelo convocatório do Mestre que dizia que iria hospedar-se na sua casa, a casa de um pecador, anunciando que naquele dia a salvação havia entrado na sua casa. Jesus nos aponta o comportamento correto dos cristãos: o perdão e acolhida devem ser as maiores novidades do Novo Testamento. Mas amar, perdoar e acolher é uma tarefa árdua, às vezes inatingível, porque o orgulho e a auto-suficiência campeiam a mentalidade dos homens e das mulheres de nossos dias.

Meus irmãos,
O perdão é difícil de entender e mais difícil de viver. O Antigo Testamento não conheceu o perdão gratuito. Foi Jesus quem o trouxe, anunciou e viveu pela primeira vez na sua própria vida. O Antigo Testamento ensinou a vingança, depois a lei de talião, olho por olho, dente por dente. Entretanto, Jesus no sermão da Montanha lembrou a norma jurídica e a declarou insuficiente e superada. Jesus virou a mesa dando um passo significativo, muito adiante do seu tempo e do tempo em que vivemos: Jesus instituiu o perdão gratuito, nunca olhando o tamanho da ofensa, mas dimensionando o tamanho superior da acolhida e do perdão. Se Deus no céu nos perdoa de todas as nossas infidelidades, quem seremos nós os homens para não acolher esta diretiva de perdão, perdoar hoje, amanhã e sempre. Voltar ao irmão que foi vilipendiado e abaixar-se se humilhando no perdão misericordioso. Os cristãos tem o grave dever de ser “os mensageiros da reconciliação”, os “mensageiros do perdão”. A Igreja, ao defender aos excluídos, deve ser a mensageira no mundo da mensagem evangélica e do mandato apostólico do perdão e da reconciliação. Jesus foi o próprio modelo de quem sabe perdoar gratuitamente. Mesmo na Cruz, depois de tanto vilipêndio, injustiças e traições ele suplicou: “Pai, perdoar-lhes, eles não sabem o que fazem”. E olhando para o ladrão arrependido, São Dimas exclamou: “Hoje mesmos estarás comigo no paraíso” (Cf. Lc 23,43), perdoando-lhe os seus pecados: “Os teus pecados te são perdoados” (Cf. Lc 7,48).

Meus amigos,
A repreensão tem o sentimento e o gosto do perdão. Tudo isso por que o pecado, mesmo cometido por uma só pessoa, tem sentido e significado comunitário. Por que isso? Porque se corrigirmos um irmão individualmente, depois se ele não aceita, é pedido que se chame a Igreja. Quando o Padre perdoa os pecados ele age em nome da Igreja, agindo em nome de um poder que foi a ela confiada em nome de Jesus Cristo. Dentro do cristianismo e repreensão já tem o gosto de perdão. Está, portanto, muito longe de certo sadismo que sentem alguns que vivem julgando todo mundo e se arrogam o direito de corrigir os da direita, os da esquerda e os de trás, bem como os da frente. A repreensão significa compreensão e coração dilatado para a abertura.
Nós cristãos formamos uma comunidade. “Igreja” significa comunidade de crentes. Por isso Jesus admitiu a possibilidade de duas ou mais pessoas terem de repreender, quando alguém errou e não quis ouvir em particular uma reprimenda. Jesus fala em “testemunhas” ao falar de correção. Ao falar em correção Jesus quis resguardar que a Igreja não se transformasse numa seita de pequenos, mesquinhas e puros, bem ao estilo dos judeus de então. Jesus não exclui, Jesus, ao contrário, acolhe.

Amigos, amados,
Jesus não falou em nenhum momento em julgar. Ele apenas conjugou o verbo perdoar. O perdão necessita de recolhimento, de intimidade com o Senhor, de enxergar o hoje de Deus. A misericórdia de Deus ultrapassa todos os limites imagináveis da justiça e se expressou no sangue do Filho bendito, derramado na cruz para o perdão de nossos pecados, assim o nosso perdão, fundamentado no amor e embebido no sangue do Senhor deve ir além da justiça humana e muito, muito além das satisfações que nosso coração possa exigir.
Desenvolver o senso de justiça sem perdão não adianta. A justiça é apanágio da acolhida e do perdão.

Caros Irmãos,
A segunda Leitura(cf. Rm 13,8-10 nos ensina que Paulo, nas suas exortações resume a prática da vida cristã não ficar devendo nada aos outros senão a caridade, que é sempre insuficiente.
O amor é o pleno cumprimento da Lei. Na sua justiça, Deus dá a todos o que precisam: fundamentalmente, seu amor de Pai. Nós, para sermos justos, devemos também dar-nos mutuamente este dom, embora sempre ficaremos devendo. Toda a justiça está incluída nisso.
Pois a caridade é o resumo de tudo. Vamos nesta semana refletir e colocar em prática a caridade que é o resumo da liturgia de hoje. Se nos esforçamos pela caridade salvamos automaticamente todas as outras obrigações: “O amor é pleno cumprimento da lei” (cf. Rm 23,8-10).
O verdadeiro amor não deixa as pessoas como são, com seus defeitos e as suas limitações. Amar um irmão significa ajudá-lo a crescer em todos os níveis, querer concretamente a sua libertação, daquilo que é defeituoso e mau, lutar por sua plena humanização. Corrigir é a grande obra de amor. Na correção fraterna o cristão faz largo uso do encorajamento. Corrigir o irmão para os caminhos de Deus é uma das maiores facetas da caridade.
Padre Wagner Augusto Portugal
 Vigário Judicial da Diocese da Campanha, MG.

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