O mês de agosto
é o Mês Vocacional! Nele, com mais ênfase destacamos a dimensão vocacional de
cada batizado. Sabemos que o batismo é a fonte de todas as vocações. A palavra
vocação vem do latim "vocare" e quer dizer chamado, chamamento que
supõe uma resposta. Neste sentido Deus chama e o ser humano responde.
A primeira e
maior de todas as vocações é o chamado à vida. Todos são chamados à vida. O próprio
Jesus enfatiza isso quando diz: "Eu vim para que todos tenham vida e a
tenham em abundância", ou ainda quando se revela como a própria vida:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida". O chamamento à vida é uma
vocação que gera, por si mesmo, em nós a felicidade. Vida e felicidade são vocações
universais do ser humano. São comuns a todos os estados de vida. E todos temos
a vocação universal à santidade. Vocação comum a todos nós.
Dentre os estados de vida possíveis está
aquele que é impresso pelo sacramento da Ordem. Ordem é o sacramento graças ao
qual a missão confiada por Cristo a seus apóstolos continua sendo exercida na Igreja,
e assim será até o fim dos tempos. O sacramento da Ordem comporta três graus, a
saber: diaconato, presbiterado e episcopado. A ordenação transcende uma simples
eleição, designação, delegação, porque confere um dom do Espírito Santo, um
poder sagrado (para melhor servir o povo de Deus), que só pode vir de Cristo
mesmo e que atua na sua Igreja.
O sinal visível
desta consagração se dá no rito da imposição das mãos do bispo e na oração
consecratória. Na teologia do sacramento da Ordem, Cristo é o sumo sacerdote e
também o único. É ele quem faz da Igreja "um reino de sacerdotes para
Deus", onde cada fiel exerce o seu sacerdócio por meio de sua
participação, cada qual segundo sua própria vocação, na missão de Cristo, sacerdote,
profeta e rei.
O sacerdócio
ministerial, conferido pelo sacramento da Ordem, embora também participe do
único sacerdócio de Cristo, se difere na sua essência. Enquanto um se realiza
no desenvolvimento da graça batismal, outro está a serviço do sacerdócio comum.
Portanto, o
sacerdote age na pessoa de Cristo, faz as suas vezes entre nós, está para nós
como aquele que serve. A presença do sacerdote retrata a presença de Cristo
cabeça, aquele que governa a Igreja. Essa presença não quer dizer que o padre está
imune a fraquezas, erros, pecados, mas que ele está revestido da força do
Espírito para o bem de todos.
Além de
representar Cristo, cabeça da Igreja, os ministros ordenados agem em nome de
toda a Igreja, oferecendo a Deus a oração da Igreja, sobretudo durante a santa
Missa, e, com ele, toda a Igreja se oferece com Cristo, por Cristo e em Cristo.
Falemos um pouco
mais sobre os três graus do sacramento:
Existem dois
graus de participação no ministério de Cristo, a saber, o sacerdócio e o
episcopado. O diaconato se destina ao serviço.
Os bispos
Os bispos são os
legítimos sucessores dos apóstolos. Conservam a semente apostólica por meio da
sucessão ininterrupta desde os apóstolos de Cristo. Assim como os apóstolos
receberam de Cristo uma especial força para transmitir aos seus colaboradores e
assim levar a bom termo a missão recebida de Cristo, pela imposição das mãos,
os bispos transmitem aos seus colaboradores – os sacerdotes – este mesmo dom
espiritual que os apóstolos transmitiram.
Como sucessores
dos apóstolos, devem zelar pelo "depósito da fé" confiado à Igreja de
Cristo. A fé Cristã é, também, a fé apostólica, porque baseada no testemunho
legítimo dos apóstolos, vê nos bispos a legítima sucessão dos apóstolos ao
longo dos séculos na Igreja de Cristo. Esta missão dos bispos tem um tríplice
sentido: recordar que a Igreja foi construída sobre o fundamento dos apóstolos,
testemunhas escolhidas e enviadas para a missão por Cristo; conservar e
transmitir, com o auxílio do Espírito Santo, o ensinamento, o depósito
precioso, as salutares palavras da boca dos apóstolos; garantir que a Igreja de
Cristo continue a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos até a
volta de Cristo, graças aos que a Eles sucedem na missão pastoral: o colégio
dos bispos, assistidos pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro,
pastor supremo da Igreja. (cf. CIC §857).
Os bispos, como
os apóstolos são enviados a pregar, dando continuidade ao que fez Jesus:
"Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20,21). São,
portanto, ministros de Deus, ministros da Nova e Eterna Aliança, servidores de
Cristo e administradores dos mistérios de Deus. São as primeiras testemunhas da
Ressurreição do Senhor, sua missão deve durar até o fim dos tempos, na ocasião
da vinda gloriosa de Nosso Senhor. Em sua missão compete aos bispos o tríplice
múnus de ensinar, santificar e reger a Igreja de Cristo. Ensinar, anunciando, como
primeira tarefa, o Evangelho de Cristo e denunciar tudo que lhe é contrário;
santificar, pela oração e trabalho, pelo ministério da Palavra e dos
Sacramentos e também por seu testemunho de vida; reger, porque lhes cabe
dirigir e coordenar suas igrejas particulares como delegados de Cristo com
conselhos, exortações e exemplos, com autoridade e poder sagrado, sempre no
mais profundo espírito de serviço e comunhão, tal como o seu Mestre.
O Documento de
Aparecida, no seu §181, ressalta que "Os bispos, além do serviço à
comunhão que prestam em
suas Igrejas particulares, exercem este ofício junto com as
outras Igrejas diocesanas. Desse modo, realizam e manifestam o vínculo de
comunhão que as une entre si. Na Conferência Nacional dos Bispos, os bispos
encontram seu espaço de discernimento solidário sobre os grandes problemas da
sociedade e da Igreja, e o estímulo para oferecer orientações pastorais que
animem os membros do povo de Deus a assumirem com fidelidade e decisão sua
vocação de ser discípulos missionários.”
A experiência da
comunhão manifesta-se na colegialidade dos bispos oriundos das mais diversas,
significativas e desafiadoras realidades, e testemunham sempre mais a Unidade
da Igreja de Cristo que, seguindo ao seu Mestre e Senhor, deseja ser no mundo e
na sociedade um sacramento universal de salvação, sinalizando Cristo e seu
Reino a todos os homens e mulheres de boa vontade. Ensina o CIC, no §1594, que
"o bispo recebe a plenitude do sacramento da Ordem que o insere no Colégio
Episcopal, e faz dele o chefe visível da Igreja Particular que lhe é confiada.
Os bispos, como sucessores dos apóstolos, e membros do Colégio, participam da responsabilidade
apostólica e da missão de toda a Igreja, sob a autoridade do papa, sucessor de
São Pedro".
Os presbíteros
Os padres ou
presbíteros são essencialmente cooperadores dos bispos. O sacerdote participa
da autoridade de Cristo para santificar, construir e reger a Igreja de Cristo.
São especialmente assinalados para a missão e estão configurados a Cristo
cabeça para agir em nome
Dele. Estão aptos e devem pregar o Evangelho, apascentar os
fiéis e celebrar o culto divino.
Além de
administrarem em favor do povo o santo sacrifício na missa, é dele também que
retiram forças para seguirem sua missão pelo mundo, participando da grande
missão de Cristo de levar a salvação a todos os cantos e recantos desta terra.
Ter um sacerdote
é sempre um dom. Muitas comunidades hoje, pela ausência de sacerdotes, acabam
ficando vários meses sem a eucaristia. E a pergunta procede: que valor damos às
santas missas que diariamente temos acesso? Participamos com piedade e devoção,
com espírito contrito e agradecido?
Os sacerdotes
são servidores do povo de Deus. Eles fazem às vezes do bispo nas respectivas
paróquias a eles confiadas. Na ordenação, a obediência prometida quer expressar
a íntima fraternidade sacramental entre o bispo e o sacerdote: são colaboradores,
filhos, irmãos e amigos de seu pastor, o bispo, e assim devem proceder, nunca
dele desligados.
Juntos, os
padres e os bispos de uma determinada diocese expressam a unidade do
presbitério, sinalizada principalmente na imposição das mãos dos presbíteros
após os bispos nas ordenações.
O sacerdote é
outro Cristo em meio da comunidade. É ele a expressão significativa do amor de
Deus que quer salvar. Por isso pastoreia, ensina e governa por meio de homens
tirados do meio do povo, preparados e em seguida devolvidos ao povo para lhes
servir mais e melhor, segundo as necessidades espirituais que lhe são próprias.
Os diáconos
Os diáconos
recebem a imposição das mãos não para o serviço. Na ordenação diaconal apenas o
bispo impõe as mãos, recordando que o diácono está intimamente ligado ao bispo
nas tarefas de sua diaconia.
Pelo sacramento
da Ordem lhes é impresso caráter, o que garante que eles estão pra sempre
intimamente ligados a Cristo, como servidor de todos. Sua principal incumbência
é ajudar o bispo e os sacerdotes nas celebrações eucarísticas e dos divinos
mistérios, distribuir a comunhão, assistir ao matrimônio e abençoá-lo,
proclamar o Evangelho, presidir os funerais, e, principalmente, consagrar-se
aos diversos serviços da caridade.
As ordenações,
seja a de diácono, presbítero seja a de bispo, devem favorecer a participação
do maior numero de fiéis. Devem acontecer nas catedrais e aos domingos ou outro
dia de afluência de povo, a não ser que a necessidade exija outras
circunstâncias a serem julgadas pelo ordinário local, ou seja, o bispo. O
sacramento da Ordem é da competência dos bispos, que receberam pela ordenação
episcopal a plenitude do sacramento.
Pois bem, amados
irmãos e irmãs, após aprofundarmos um pouco sobre os três graus do sacramento
da Ordem, somos chamados sempre mais a rezar pelas vocações. Precisamos de
santos e dedicados pastores, que auxiliem o povo de Deus em suas experiências
de fé, num encontro vivo e fecundo com Cristo. Encontro que transforme as suas
vidas e lhes garanta uma experiência fecunda e transformadora, capaz de gerar
homens e mulheres novos para um mundo novo.
São João Maria
Vianey, um homem de simplicidade extraordinária, nos mostra que não são as
grandes coisas que formam um bom sacerdote e o santifica, mas a experiência da
simplicidade, da oferta de si em favor do outro, da santificação do seu povo,
mesmo quando não há sinais primeiros desse desejo. Quando São João Vianey foi
enviado para ser o pároco de Arns, esta era uma cidade pequena, com
aproximadamente trezentas pessoas, capela vazia, vida promíscua e desregrada.
Não tinha empregada, nem dinheiro. Aos poucos, foi visitando as casas,
convidando as pessoas para a celebração da missa, e a capela começou a ser
visitada. Sua fama de santidade e os bons conselhos que oferecia no
confessionário, lugar de destaque de seu ministério, levava pessoas de todas as
regiões e dos lugares mais distantes a procurá-lo. Chegou a atender mais de duzentos
fiéis por dia, oitenta mil por ano! Seus sermões não eram organizados, ele se
enrolava ao falar, mas o amor a Cristo e a Igreja eram indiscutíveis. A capelinha se transformou e hoje se tornou
centro de peregrinação. O padre apesar de suas limitações tornou-se o Patrono Universal
dos Sacerdotes. Certamente o exemplo deste santo tem muito a nos ajudar na
compreensão da verdadeira missão dos ministros ordenados.
Rezemos para que
Cristo seja mais amado e conhecido e que seus ministros ordenados sejam o amor
do coração de Cristo, como dizia São João Vianey; que sejam pregadores ambulantes
da palavra com a boca e com o coração; com as palavras e as ações que
santificam a vida do mundo.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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