A palavra
“partilha” tem uma dimensão de esperança, de realidade nova e de mundo novo.
Ela desafia o sistema de acúmulo que causa tantas consequências que ameaçam a
vida das pessoas. Onde acontece de verdade a partilha, não existe necessitados.
Apesar do espírito
de partilha e de fraternidade de muitas pessoas, a estrutura da sociedade
hodierna reflete sintoma de pessimismo, de fechamento e de concentração de
bens. Com isto, a esperança de um mundo mais fraterno e humano é, também, de
forma pessimista.
Mesmo assim,
devemos sonhar com um “novo tempo”. Isto faz parte do contexto da fé, assentado
nas promessas divinas de um mundo melhor, no saber partilhar os bens da
criação. Tudo que existe do Criador foi destinado para dar qualidade de vida para
todos.
As comunidades têm muitos
sonhos. Eles alimentam a esperança e os projetos de futuro. Já nos povos
antigos esta consciência estava muito evidente nas pessoas. É a expectativa e a
confiança na luta pela conquista de uma vida melhor e de fraternidade.
Na realidade, muita
gente vive condição de fome, de carência das condições mínimas para sobreviver
e viver dignamente. Acontece que isto ameaça a vida. Por outro lado, temos
muito desperdício e pouco zelo pelos bens da natureza.
Sabemos que onde há
partilha, a multiplicação é certa e evidente. Aí acontece a salvação dos pobres
e famintos, e ninguém passa necessidade. Deus não quer que as pessoas vivam na
miséria. “Pobres sempre tereis” (Jo 12, 8), mas na igualdade social.
É atitude desumana
o desejo incontrolável do ter para guardar e ostentar o poder da posse. A
verdadeira felicidade está no ser da pessoa e na sua capacidade de
relacionamento. Não no ter de forma desequilibrada, egoísta, no comer e no
beber!
O milagre da
multiplicação e da partilha é diferente da teologia da prosperidade econômica
em nome de Deus. Só pode haver verdadeira prosperidade existindo real
solidariedade para com os mais pobres. Isto só é capaz de acontecer numa
sociedade organizada social e comunitariamente.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José
do Rio Preto.